Inaugurado em 18 de abril de 1931 pela Companhia Nacional de Cinemas, o Imperial (à Rua dos Andradas, em frente a Praça da Alfândega, antiga Praça Senador Florêncio) está situado no andar térreo do edifício da Companhia de Seguros Previdência do Sul, de 12 pavimentos – construção que é um dos marcos da verticalização promovida pela presença do skyscraper style no centro da cidade, usualmente em edifícios comerciais, a partir dos anos 20.
A sala exibe, em sua sessão de abertura, o film super-sonoro "Romance", da Metro Goldwyn Mayer, estrelado por Greta Garbo, com direção de Clarence Brown (na ocasião, mais de 3.000 pessoas disputam as 1.632 poltronas disponíveis). Contava com o que havia de mais moderno em equipamento de projeção e sonorização. Além disso, “o seu cinema”, título dado carinhosamente pelos freqüentadores desde sua inauguração, possuía luxuosas e inovadoras linhas arquitetônicas. Projetado por Agnelo Nilo de Lucca e Egon Weindorfer, com decoração de Fernando Corona (que, em 1929, viaja para Buenos Aires, com intenção de estudar técnicas de cinema moderno), era dono de “majestosa e imponente fachada, hall magnífico e confortável sala de espetáculos”.
Ao longo dos anos 40 e 50, sessões memoráveis exibem títulos como "Por quem os sinos dobram", com Gary Cooper e Ingrid Bergmann, "Um aventureiro na Martinica", com Humphrey Bogart e Lauren Bacall, "Agarre essa loura", com Eddie Bracken e Veronica Lake, "Fantasia Mexicana", com Dorothy Lamour, "A coragem de Lassie", estrelado por Elizabeth Taylor, "O médico e o monstro", com Spencer Tracy e Lana Turner, "Como agarrar um milionário", com Marilyn Monroe, "Suplício de uma saudade", com William Holden e Jennifer Jones, além de clássicos que eram reprisados anualmente, como "El Cid", "O manto sagrado" e "O príncipe valente". Em seu palco, apresentam-se a “pequena notável” Carmem Miranda, os Ases do Samba (que eram Francisco Alves, Mário Reis e Noel Rosa), as Companhias Teatrais de Procópio Ferreira e de Dulcina – Odilon, o tenor italiano Tito Schipa (placa de bronze alusiva à apresentação encontra-se fixada na sala de espera do cinema), Vicente Celestino – o “cantor das multidões”, o “canário rio-grandense” Dante Santoro, os “reis do riso” Alvarenga e Ranchinho, a Companhia Italiana de Operetas de Franca Boni, a comediante Chica Pelanca, Oscarito - o “rei da chanchada”, Dercy Gonçalves, os Quitandinha Serenaders, entre outros grandes artistas nacionais e internacionais. Além de atrações musicais e teatrais, a casa apresenta conferências com o jornalista e político Carlos Lacerda, o espiritualista Umberto Marcotti, e o Festival do Partido Comunista, do “cavaleiro da esperança” Luiz Carlos Prestes. Nada combinava tão bem com o romantismo da época do que freqüentar os espaços culturais do centro da cidade, bairro que então reunia a nata da sociedade porto-alegrense e o comércio de alto nível, e onde surgiam novas avenidas, viadutos e arranha-céus, como os imponentes edifícios Sulacap (1949), Jaguaribe (1951), Formac (1956), Coliseu (1957) e Santa Cruz (1958).
Foi pioneiro no estado em projeções no formato Cinemascope (anos 50) e em película de 70mm (anos 60). Ainda nos anos 70, os onze andares acima do Imperial, que funcionaram como apartamentos residenciais e depois como escritórios, são desativados, assim como vinha ocorrendo em outros grandes prédios da área central da cidade.
Durante os anos 80 e 90, o Imperial resistiu bravamente à onda de falências das salas consideradas antiquadas ou obsoletas (as que não fecharam suas portas seguiram operando com filmes pornográficos ou de baixa qualidade). Em 1987, o vizinho Guarany, fechado desde 1975 (depois de ter sido expulso do prédio ao lado, onde hoje localiza-se o Banco Safra), instala-se no mezanino do Imperial, formando o complexo Imperial/Guarany, administrado pela Companhia Nacional de Cinemas, associada à rede GNC Cinemas.
Século 21: nos meses que antecedem seu fechamento, as salas realizam promoções de ingressos, que custam R$ 3,00 às terças-feiras (menos que a locação de um DVD). Era o derradeiro suspiro do mais antigo cinema de calçada do Rio Grande do Sul. Vencia, ao final e mais uma vez, a cruel lógica do mercado, que impunha às salas de calçada adaptações que elas não poderiam realizar, e que fazia chegar ao fim uma época em que os cinemas eram verdadeiras fábricas de sonhos, e não apenas meros apêndices mercadológicos. Em tom nostálgico, Hormar Castello Jr. declara ao jornal Correio do Povo, por ocasião do fechamento da sala: “Porto Alegre perde uma casa lançadora a preços bem acessíveis. O custo elevado de manutenção, aliado à tendência a criação de salas menores e à preferência do público pelos cinemas de shoppings pesou na decisão do fechamento”.
O Imperial teve sua última sessão em 04 de agosto de 2005, exibindo o filme "Guerra dos mundos", de Steven Spielberg, e permaneceu com as portas fechadas até dezembro de 2008 (durante este período, foi alvo de saques e depredação). Atualmente, encontra-se em processo de remodelação - deverá abrigar o Centro Cultural da Caixa Econômica Federal e a Secretaria Municipal de Cultura.
Fotos: Diego Vara
Parabéns pelo post.
ResponderExcluirÉ realmente uma lástima este tipo de cinema sendo fechado. Infelizmente, hoje em dia, apenas cinemas que ficam em shoppings ou centros comerciais fazem sucesso. E, ainda assim, somente quando passam filmes "blockbusters". Uma pena, pois, ao meu ver, cinemas como o Imperial, ou o da CCMQ, dão um charme especial à cidade.
Parabéns pelo Blog.