O dia em que Papai Noel vestiu azul
Final Sports / Sob a Bênção da Imortalidade
Cristiano Zanella
24/12/2008
Dez de dezembro de 1961. Era a data marcada para a realização do último jogo do Campeonato Gaúcho daquele ano, o Gre-nal que decidiria o campeão do certame. Mas, para tristeza e decepção dos tricolores, de nada valeria o clássico, visto que o Inter era o campeão antecipado, já tendo somado os pontos necessários nas rodadas anteriores. O jogo seria disputado no Estádio dos Eucaliptos, e o carnaval vermelho estava assegurado. Mal podiam imaginar os festivos colorados que uma estranha e inacreditável façanha – destas que teimam em acompanhar a já centenária trajetória tricolor – estava prestes a realizar-se, e que esta teria como protagonista o glorioso Grêmio Foot-ball Porto-alegrense, então Penta-Campeão Gaúcho.
Logo nos primeiros minutos de jogo, o Inter já vencia por 1 a 0, e a expulsão do lateral-direito gremista Altemir facilitaria as coisas para o colorado: terminado o primeiro tempo, Inter 2 x 0 Grêmio (dois gols de Alfeu). Segunda etapa: com um homem a menos e perdendo por dois gols, o Tricolor dos Pampas, capitaneado pelo lendário Airton Pavilhão, entra em campo para fazer história. Aos 25 minutos da etapa complementar, Nadir diminui cobrando falta: 2 a 1. Pouco mais de dez minutos depois, Marino empata o jogo. Já quase nos acréscimos, bola na área do Inter, e o “Tanque Gremista” Juarez cabeceia livre – era o gol da inesquecível virada! Inter 2 x 3 Grêmio!
Naqueles mágicos 45 minutos, a tristeza antecipada transformava-se em esfuziante e incontida alegria! O título do Gauchão já não tinha mais importância, e a torcida gremista ainda festejava o gol da vitória quando viu cruzar o campo, em louca disparada, um Papai Noel todo azul!?!? Por trás da tradicional indumentária natalina – quem mais poderia ser? – estava um dos maiores ícones da história tricolor: Francisco Paulo Sant´ana.
Segundo depoimento de Sant´ana à Revista Placar (junho de 1991):
“Tinha eu 22 anos e fui convidado para a façanha. Dias antes, prepararam-me uma vestimenta de seda azul, com gorro de pompom e tudo. E fiquei eu no vestiário todo o tempo, já dentro da indumentária, esperando apenas para calçar as botas, que eram de número 39, enquanto eu calçava 41. Quando o Inter fez o segundo gol, tirei a quente roupa de Papai Noel e coloquei numa sacola. Nada mais havia a fazer, ainda mais com a desvantagem de dez homens em campo. Mas, a medida em que o escore ia se modificando, eu ia colocando as calças, a blusa, o gorro, na expectativa de entrar no gramado. Quando explodiu o terceiro gol, o massagista Biscardi já passava sabonete em meus pés, no objetivo de conseguir enfiar neles as botas apertadas. A gente ficava naquele vestiário da quadra de basquete, havia uma porta de ferro e a tela separando-o do campo. Quando o árbitro terminou a partida, atirei-me contra ela, procurando ultrapassá-la. Policiais e funcionários da Federação tentaram impedir a força minha entrada. Os dirigentes e os reservas do Grêmio empurravam-me e consegui passar por aquela barreira, mas percebi que não havia mais pompom no meu gorro, nem a barba postiça branca no meu queixo, que haviam sido arrancados no sururu. Mesmo assim, entrei em campo sob os vivas da torcida gremista. Fui levantado pelos jogadores tricolores e levado até as sociais coloradas, que assistiam arrasadas ao meu desfile triunfante. Cumpria-se uma tradição de muitos anos. Fui para o centro da cidade, cercado por duas loiras espetaculares. Era o carnaval gremista que se espraiava pelas ruas. Dali a pouco, na Borges de Medeiros, o mais numeroso cordão colorado vinha em direção contrária – aliás, o Internacional havia sido o campeão. E nem a vitória gremista conseguira arrefecer-lhes por inteiro o ânimo. Quando aquela massa vermelha cruzou por nós, eles me atacaram. Subi num bonde-gaiola e eles entraram junto, perseguindo-me. Levei uma boa surra e minha roupa de Papai Noel foi inteiramente esfrangalhada. Nunca mais vou me esquecer daquela impossível vitória. Nem dos riscos que corri para apenas afirmar uma rivalidade que continua séria, mas tinha muito mais imaginário e pitoresco que nos dias de hoje”.
Foi numa tarde quente de dezembro, no distante ano de 1961, o dia em que o bom velhinho vestiu azul (e escapou de ser linchado)... O dia em que, mais uma vez e para todo o sempre, o Grêmio escrevia com sangue, suor e lágrimas seu nome no livro das vitórias impossíveis, tornando-se o protagonista de uma verdadeira fábula natalina. E os gremistas, mesmo perdendo o título, viveram intensamente um Natal de muita paz, saúde e amor – um autêntico Natal tricolor!
www.finalsports.com.br
License do drink!
Banha!
Morreu na madrugada desta quinta-feira (17/12/2009), em Porto Alegre, o ex-massagista do Grêmio, Alvaci Silva de Almeida, o Banha. Ele estava internado desde o dia 7 de dezembro no Hospital de Clínicas, com muita tosse e falta de ar. Segundo informações da família, o estado de saúde do ex-massagista piorou no sábado e ele foi levado para o Centro de Terapia Intensiva (CTI) em coma induzido. Banha teve duas paradas cardíacas, mas a causa da morte ainda não foi divulgada. A família decidiu que o corpo será cremado.
Banha chegou no Grêmio no dia 1º de julho de 1964, quando tinha 21 anos. Ele era responsável pelo relaxamento muscular dos atletas. Mais tarde, assumiu o posto de massagista da equipe principal do tricolor, e esteve presente nas principais conquistas do time gaúcho nas décadas de 80 e 90, como a Libertadores e o Mundial de 1983. Por motivos de saúde, abandonou a função no final da década de 90. Mesmo assim, se mantinha vinculado ao clube do seu coração.
Em 2003, quando o Grêmio comemorou os 20 anos da conquista do Mundial do Japão, Banha foi um dos personagens da retrospectiva realizada pela Grêmio.Net. Reproduzimos a entrevista na integra, onde Banha relata as principais passagens da final do Mundial.
Grêmio.Net: Qual o momento mais marcante daquele conquista no Japão?
Banha: Foi quando o juiz apitou o final de jogo e a festa começou no estádio. Depois continuou no ônibus, no hotel. Tudo com muito champanhe.
Grêmio.Net: Você conheceu quase o mundo todo com o Grêmio mas uma viagem tão longa e cansativa como esta foi a primeira vez. Como foi o vôo até Tóquio?
Banha: Foi tranqüilo. Conversamos bastante, jogamos carta, tomamos chimarrão. Na época eu pesava 143 Kg e o pessoal caiu na minha cabeça porque eu não conseguia fechar o cinto de segurança. A aeromoça teve que trazer outro pedaço de cinto para poder fechar. Era complicado ir ao banheiro também. Muito apertado.
Grêmio.Net: Você já foi quatro vezes com o Grêmio ao Japão mas em 1983 era a primeira vez. Como foi esse primeiro contato com tão diferente cultura?
Banha: Parecia que eu estava em outro mundo. Era completamente diferente do que eu estava acostumado. Uma tecnologia muito desenvolvida. Para atravessar a rua, havia um aparelho sonoro para ajudar os cegos a atravessarem. Impressionante.
Grêmio.Net: Houve alguma dificuldade de comunicação no dia-a-dia com os japoneses?
Banha: Não. Nenhum. O Grêmio pensou em tudo e, no hotel, haviam quatro ou cinco intérpretes à disposição da delegação. Se a gente queria sair pra fazer compras, sempre éramos acompanhados por um deles. Fiquei responsável por fazer feijão para os jogadores e até mesmo na cozinha havia um intérprete pra me ajudar.
Grêmio.Net: Como foi a expectativa antes da partida?
Banha: Uma ansiedade muito grande. Trabalhei direto com o Osvaldo. Ele viajou sentindo dores e fizemos um tratamento intensivo. De manhã, de tarde e de noite. Só na véspera da partida que ele acordou sem dor e acabou sendo uma das grandes figuras da conquista.
Grêmio.Net: No momento em que o Hamburgo empatou o jogo, você estava atendendo o Renato, com câimbras, na beira do gramado. Como foi aquele momento?
Banha: Quando o Hamburgo fez o gol, nós gelamos. O Renato se levantou rapidamente e voltou para o campo dizendo “vamos ganhar, vamos ganhar”. Graças a Deus ele conseguiu fazer o segundo gol na prorrogação. A equipe já estava cansada física e mentalmente e o gol veio na hora certa.
Grêmio.Net: Você ainda mantém contato com o pessoal daquela época?
Banha: Claro. Tenho contato com o Hélio (roupeiro), meu companheiro de Grêmio por 40 anos. O Tarciso, o Paulo Roberto. Até mesmo com o De Leon, na época em que ele estava treinando o clube. Todos que andam pela área a gente encontra e pára para bater um papo.
Fonte: Correio do Povo e Grêmio Foot-ball Porto Alegrense / Site Oficial.
Banha chegou no Grêmio no dia 1º de julho de 1964, quando tinha 21 anos. Ele era responsável pelo relaxamento muscular dos atletas. Mais tarde, assumiu o posto de massagista da equipe principal do tricolor, e esteve presente nas principais conquistas do time gaúcho nas décadas de 80 e 90, como a Libertadores e o Mundial de 1983. Por motivos de saúde, abandonou a função no final da década de 90. Mesmo assim, se mantinha vinculado ao clube do seu coração.
Em 2003, quando o Grêmio comemorou os 20 anos da conquista do Mundial do Japão, Banha foi um dos personagens da retrospectiva realizada pela Grêmio.Net. Reproduzimos a entrevista na integra, onde Banha relata as principais passagens da final do Mundial.
Grêmio.Net: Qual o momento mais marcante daquele conquista no Japão?
Banha: Foi quando o juiz apitou o final de jogo e a festa começou no estádio. Depois continuou no ônibus, no hotel. Tudo com muito champanhe.
Grêmio.Net: Você conheceu quase o mundo todo com o Grêmio mas uma viagem tão longa e cansativa como esta foi a primeira vez. Como foi o vôo até Tóquio?
Banha: Foi tranqüilo. Conversamos bastante, jogamos carta, tomamos chimarrão. Na época eu pesava 143 Kg e o pessoal caiu na minha cabeça porque eu não conseguia fechar o cinto de segurança. A aeromoça teve que trazer outro pedaço de cinto para poder fechar. Era complicado ir ao banheiro também. Muito apertado.
Grêmio.Net: Você já foi quatro vezes com o Grêmio ao Japão mas em 1983 era a primeira vez. Como foi esse primeiro contato com tão diferente cultura?
Banha: Parecia que eu estava em outro mundo. Era completamente diferente do que eu estava acostumado. Uma tecnologia muito desenvolvida. Para atravessar a rua, havia um aparelho sonoro para ajudar os cegos a atravessarem. Impressionante.
Grêmio.Net: Houve alguma dificuldade de comunicação no dia-a-dia com os japoneses?
Banha: Não. Nenhum. O Grêmio pensou em tudo e, no hotel, haviam quatro ou cinco intérpretes à disposição da delegação. Se a gente queria sair pra fazer compras, sempre éramos acompanhados por um deles. Fiquei responsável por fazer feijão para os jogadores e até mesmo na cozinha havia um intérprete pra me ajudar.
Grêmio.Net: Como foi a expectativa antes da partida?
Banha: Uma ansiedade muito grande. Trabalhei direto com o Osvaldo. Ele viajou sentindo dores e fizemos um tratamento intensivo. De manhã, de tarde e de noite. Só na véspera da partida que ele acordou sem dor e acabou sendo uma das grandes figuras da conquista.
Grêmio.Net: No momento em que o Hamburgo empatou o jogo, você estava atendendo o Renato, com câimbras, na beira do gramado. Como foi aquele momento?
Banha: Quando o Hamburgo fez o gol, nós gelamos. O Renato se levantou rapidamente e voltou para o campo dizendo “vamos ganhar, vamos ganhar”. Graças a Deus ele conseguiu fazer o segundo gol na prorrogação. A equipe já estava cansada física e mentalmente e o gol veio na hora certa.
Grêmio.Net: Você ainda mantém contato com o pessoal daquela época?
Banha: Claro. Tenho contato com o Hélio (roupeiro), meu companheiro de Grêmio por 40 anos. O Tarciso, o Paulo Roberto. Até mesmo com o De Leon, na época em que ele estava treinando o clube. Todos que andam pela área a gente encontra e pára para bater um papo.
Fonte: Correio do Povo e Grêmio Foot-ball Porto Alegrense / Site Oficial.
Santo remédio!
Cine Theatro Capitólio!
Capitólio (1928-1994): velho cinema novo?
Em matéria publicada na capa do Segundo Caderno do jornal Zero Hora, em 02 de julho de 1994, o jornalista Nilson Mariano, em narrativa melancólica, descrevia a última sessão do Cine Theatro Capitólio, ocorrida havia três dias. Inaugurado em 12 de outubro de 1928, com o filme Casanova, o príncipe dos amantes, o prédio (projeto do arquiteto e engenheiro paulista Domingos Rocco), possuía um estilo eclético, com influências açorianas e portuguesas, unindo luxo, complexidade e perfeição em seus espaços externos e internos. De propriedade do alfaiate José Luiz Faillace, que aplica suas economias na construção do novo centro de diversões, o Capitólio tinha capacidade original para 1.295 espectadores, uma área de 1.300 m² e mantinha contrato de exclusividade com duas das maiores produtoras de filmes da época: a United Artists e a RKO. Segundo o jornal Correio do Povo (06/10/1928), “um centro de reunião da elegante mocidade daquela populosa zona”.
A sala, localizada na esquina da avenida Borges de Medeiros com Demétrio Ribeiro (bairro Centro), chegava à sua derradeira sessão num clima que em nada lembrava seus anos dourados, quando, além de projetar grandes filmes, recebia companhias teatrais, vedetes do Teatro de Revista, e era palco de bailes de carnaval e concursos de misses. O então derrotado Capitólio exibia, naquela noite, o que havia de mais baixo na escala cinematográfica:
“O cartaz do pornô Seduzida por um cachorro e Amada por um animal contrastava com os lustres de cristal, a forração púrpura e os pilares em estilo grego do prédio erguido em 1928, no Centro de Porto Alegre. Mas os 20 espectadores da última sessão do Cine Capitólio, exibida às 21h de quinta-feira, não estavam muito interessados em detalhes arquitetônicos, nem no filme. Nos últimos meses, a sala estava servindo para encontros de homossexuais. Discretos, comportados e um pouco constrangidos, os gays lamentaram o fechamento do Capitólio”. (MARIANO, Nilson – Zero Hora/Segundo Caderno, 02/06/1994, p. 01).
Naquela mesma quinta-feira, 30 de junho 1994, encerraram atividades outras duas salas da cidade, também administradas pela Fama Filmes, da rede de Marcelo Zonari (Companhia Cinematográfica São João): os tradicionais Marrocos (no Menino Deus) e São João (também no Centro) – este último, assim como o Capitólio, vinha dedicando-se à exibição de filmes de sexo explícito:
“Nos últimos tempos, Porto Alegre ganhou e perdeu vários cinemas. Novos shopping centers surgiram, com salas pequenas, cheirando a conforto e limpeza. Na última quinta-feira, três cinemas grandes, antigos e mofados encerraram suas atividades. Agora estão inertes e mudos os projetores do decadente São João, do outrora requintado Capitólio e do familiar Marrocos. Uma modernidade asséptica e despersonalizada substitui velhos e nostalgicamente simpáticos personagens da paisagem da cidade”. (BECKER, Tuio – Zero Hora/Segundo Caderno, 02/06/1994, p. 20).
Pouco mais de uma semana depois, no domingo 10 de julho, fechavam outras seis salas, todas de propriedade do grupo Cine-Teatro Rex S/A: o ABC (na Cidade Baixa), o Coral 1 e 2 (no Moinhos de Vento), o Cacique, o Scala e o Lido (no Centro). Porto Alegre contabilizava a perda de nove salas de cinema em pouco mais de dez dias.
Quase simultaneamente ao fechamento do Capitólio, entidades iniciaram a luta para a restauração do cinema, sempre esbarrando na falta de recursos financeiros.
Em 1995, o então prefeito Tarso Genro sancionou a lei complementar 365/95, transferindo a propriedade do imóvel para o município, e o declarou Patrimônio Cultural da cidade (o projeto foi aprovado por unanimidade na Câmara dos Vereadores). Naquele mesmo ano, no dia 03 de outubro, o Segundo Caderno de Zero Hora publica, na coluna Estado das Coisas, nota redigida pelo jornalista Renato Mendonça que previa a reabertura da sala em 1996, administrada pelo Serviço Social do Comércio (SESC):
“Renato Seguezio, presidente do conselho regional do Serviço Social do Comércio (SESC), contou que seu tio pintava os cartazes do cinema e lembrou de Vinte mil léguas submarinas. O prefeito Tarso Genro citou Giordano Bruno, que assistiu nos anos 50, quando visitou um tio em Porto Alegre. Seguezio e Tarso prometem retribuir as nostálgicas matinês do passado salvando o cinema. (...) O SESC assumirá a restauração do prédio (orçada em R$ 1 milhão) e cuidará da administração. O diretor geral do órgão, José Mendonça, informou que esta sessão deve durar pelo menos 50 anos e que está prevista para agosto de 1996 a entrega do cinema e de uma oficina de teatro”. (MENDONÇA, Renato – Zero Hora/Segundo Caderno, 03/10/1995, p. 03).
O convênio entre o SESC e a Prefeitura foi celebrado em novembro de 1997, com uma semana de espetáculos artísticos na Praça Daltro Filho – em frente ao cinema –, lançando o projeto Instituto Policultural Capitólio/SESC. O prazo para o início das obras não foi cumprido, e o acordo com o SESC desfeito no início de 2000. Desde então, o imóvel permaneceu abandonado, aumentando assim os problemas em sua já comprometida estrutura. Por diversas vezes os vizinhos reclamaram das infiltrações nas paredes, do lixo acumulado no pátio, dos ratos, dos pombos e morcegos que habitavam o telhado, e também dos mendigos que passaram a ter ponto em volta do prédio fechado. Em dezembro de 2000, uma das vigas que sustentavam o teto cedeu, e parte da cobertura desabou.
Mais de dez anos haviam se passado desde o fechamento do Capitólio! No dia 26 de outubro de 2004 (cinco dias antes das eleições municipais), a Prefeitura de Porto Alegre/Administração Popular (através da Secretaria Municipal de Cultura), a Associação dos Amigos do Cinema Capitólio (AAMICA) e a Fundação Cinema RS (Fundacine), realizaram, no local, coquetel de apresentação da nova Cinemateca Capitólio. Com aprovação junto à Lei de Incentivo à Cultura e Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, e patrocínio da Petrobras, o projeto prevê a construção de um centro de documentação e informação para pesquisa audiovisual, abrigando em seu acervo arquivos e coleções públicas e particulares. Além disso, a cinemateca deverá contar com uma sala de cinema com 188 lugares, equipada com projetores nos sistemas digital, 35mm e 16mm, quatro salas de exibição para pequenos grupos e ilha de convivência (com cafeteria, loja de CDs, DVDs e livros relacionados com cinema). A cerimônia reuniu parte significativa da classe artística gaúcha, em especial os cineastas, e contou com apresentação do grupo teatral Falus & Stercus, cujos integrantes executaram coreografias pendurados em cabos presos às paredes do prédio.
As obras de restauração do prédio histórico tiveram início em dezembro de 2004. O projeto contou com um patrocínio de R$ 4,2 milhões da Petrobras em suas duas primeiras etapas, o que resultou na conclusão da etapa civil da obra. Com isso, a fachada do prédio e as estruturas da construção foram recuperadas.
Em 2006, quando a Petrobras decidiu não patrocinar a última etapa do projeto, um longo e persistente caminho precisou ser enfrentado a fim de se conquistar um novo financiamento. O trabalho envolveu a obtenção da Carta de Reconhecimento da Importância Cultural e Imaterial do Capitólio, em dezembro de 2007, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e uma detalhada construção de apoios institucionais em todos os níveis de governo, além da ajuda de colaboradores.
Em novembro de 2009, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) confirmou o patrocínio no valor de R$ 1,1 milhão, por meio da Lei Rouanet, para a conclusão das obras de restauração da sala. O reinício das obras está previsto para os primeiros meses de 2010.
A Cinemateca Capitólio será a primeira da região sul do Brasil e a segunda do país, e pretende reunir todo o acervo audiovisual do Rio Grande do Sul. Por meio de um convênio, a Cinemateca Brasileira está prestando o suporte técnico de acervamento, restauração das películas, vídeos e materiais documentais, como cartazes e revistas. Todo material audiovisual significativo recebido é enviado para a equipe da Cinemateca Brasileira. Lá, o material recebe tratamento adequado para estar, em breve, disponível aos gaúchos no prédio do antigo cinema da avenida Borges de Medeiros – o jornalista e pesquisador cinematográfico Glênio Póvoas é o consultor técnico de catalogação e acervo.
Sonho antigo da comunidade cultural porto-alegrense e dos moradores do Centro, a re-abertura do velho Capitólio se anuncia próxima, e em grande estilo!
+ INFORMAÇÃO:
http://www.aamica-capitolio.blogspot.com
http://www.capitolio.org.br
Em matéria publicada na capa do Segundo Caderno do jornal Zero Hora, em 02 de julho de 1994, o jornalista Nilson Mariano, em narrativa melancólica, descrevia a última sessão do Cine Theatro Capitólio, ocorrida havia três dias. Inaugurado em 12 de outubro de 1928, com o filme Casanova, o príncipe dos amantes, o prédio (projeto do arquiteto e engenheiro paulista Domingos Rocco), possuía um estilo eclético, com influências açorianas e portuguesas, unindo luxo, complexidade e perfeição em seus espaços externos e internos. De propriedade do alfaiate José Luiz Faillace, que aplica suas economias na construção do novo centro de diversões, o Capitólio tinha capacidade original para 1.295 espectadores, uma área de 1.300 m² e mantinha contrato de exclusividade com duas das maiores produtoras de filmes da época: a United Artists e a RKO. Segundo o jornal Correio do Povo (06/10/1928), “um centro de reunião da elegante mocidade daquela populosa zona”.
A sala, localizada na esquina da avenida Borges de Medeiros com Demétrio Ribeiro (bairro Centro), chegava à sua derradeira sessão num clima que em nada lembrava seus anos dourados, quando, além de projetar grandes filmes, recebia companhias teatrais, vedetes do Teatro de Revista, e era palco de bailes de carnaval e concursos de misses. O então derrotado Capitólio exibia, naquela noite, o que havia de mais baixo na escala cinematográfica:
“O cartaz do pornô Seduzida por um cachorro e Amada por um animal contrastava com os lustres de cristal, a forração púrpura e os pilares em estilo grego do prédio erguido em 1928, no Centro de Porto Alegre. Mas os 20 espectadores da última sessão do Cine Capitólio, exibida às 21h de quinta-feira, não estavam muito interessados em detalhes arquitetônicos, nem no filme. Nos últimos meses, a sala estava servindo para encontros de homossexuais. Discretos, comportados e um pouco constrangidos, os gays lamentaram o fechamento do Capitólio”. (MARIANO, Nilson – Zero Hora/Segundo Caderno, 02/06/1994, p. 01).
Naquela mesma quinta-feira, 30 de junho 1994, encerraram atividades outras duas salas da cidade, também administradas pela Fama Filmes, da rede de Marcelo Zonari (Companhia Cinematográfica São João): os tradicionais Marrocos (no Menino Deus) e São João (também no Centro) – este último, assim como o Capitólio, vinha dedicando-se à exibição de filmes de sexo explícito:
“Nos últimos tempos, Porto Alegre ganhou e perdeu vários cinemas. Novos shopping centers surgiram, com salas pequenas, cheirando a conforto e limpeza. Na última quinta-feira, três cinemas grandes, antigos e mofados encerraram suas atividades. Agora estão inertes e mudos os projetores do decadente São João, do outrora requintado Capitólio e do familiar Marrocos. Uma modernidade asséptica e despersonalizada substitui velhos e nostalgicamente simpáticos personagens da paisagem da cidade”. (BECKER, Tuio – Zero Hora/Segundo Caderno, 02/06/1994, p. 20).
Pouco mais de uma semana depois, no domingo 10 de julho, fechavam outras seis salas, todas de propriedade do grupo Cine-Teatro Rex S/A: o ABC (na Cidade Baixa), o Coral 1 e 2 (no Moinhos de Vento), o Cacique, o Scala e o Lido (no Centro). Porto Alegre contabilizava a perda de nove salas de cinema em pouco mais de dez dias.
Quase simultaneamente ao fechamento do Capitólio, entidades iniciaram a luta para a restauração do cinema, sempre esbarrando na falta de recursos financeiros.
Em 1995, o então prefeito Tarso Genro sancionou a lei complementar 365/95, transferindo a propriedade do imóvel para o município, e o declarou Patrimônio Cultural da cidade (o projeto foi aprovado por unanimidade na Câmara dos Vereadores). Naquele mesmo ano, no dia 03 de outubro, o Segundo Caderno de Zero Hora publica, na coluna Estado das Coisas, nota redigida pelo jornalista Renato Mendonça que previa a reabertura da sala em 1996, administrada pelo Serviço Social do Comércio (SESC):
“Renato Seguezio, presidente do conselho regional do Serviço Social do Comércio (SESC), contou que seu tio pintava os cartazes do cinema e lembrou de Vinte mil léguas submarinas. O prefeito Tarso Genro citou Giordano Bruno, que assistiu nos anos 50, quando visitou um tio em Porto Alegre. Seguezio e Tarso prometem retribuir as nostálgicas matinês do passado salvando o cinema. (...) O SESC assumirá a restauração do prédio (orçada em R$ 1 milhão) e cuidará da administração. O diretor geral do órgão, José Mendonça, informou que esta sessão deve durar pelo menos 50 anos e que está prevista para agosto de 1996 a entrega do cinema e de uma oficina de teatro”. (MENDONÇA, Renato – Zero Hora/Segundo Caderno, 03/10/1995, p. 03).
O convênio entre o SESC e a Prefeitura foi celebrado em novembro de 1997, com uma semana de espetáculos artísticos na Praça Daltro Filho – em frente ao cinema –, lançando o projeto Instituto Policultural Capitólio/SESC. O prazo para o início das obras não foi cumprido, e o acordo com o SESC desfeito no início de 2000. Desde então, o imóvel permaneceu abandonado, aumentando assim os problemas em sua já comprometida estrutura. Por diversas vezes os vizinhos reclamaram das infiltrações nas paredes, do lixo acumulado no pátio, dos ratos, dos pombos e morcegos que habitavam o telhado, e também dos mendigos que passaram a ter ponto em volta do prédio fechado. Em dezembro de 2000, uma das vigas que sustentavam o teto cedeu, e parte da cobertura desabou.
Mais de dez anos haviam se passado desde o fechamento do Capitólio! No dia 26 de outubro de 2004 (cinco dias antes das eleições municipais), a Prefeitura de Porto Alegre/Administração Popular (através da Secretaria Municipal de Cultura), a Associação dos Amigos do Cinema Capitólio (AAMICA) e a Fundação Cinema RS (Fundacine), realizaram, no local, coquetel de apresentação da nova Cinemateca Capitólio. Com aprovação junto à Lei de Incentivo à Cultura e Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, e patrocínio da Petrobras, o projeto prevê a construção de um centro de documentação e informação para pesquisa audiovisual, abrigando em seu acervo arquivos e coleções públicas e particulares. Além disso, a cinemateca deverá contar com uma sala de cinema com 188 lugares, equipada com projetores nos sistemas digital, 35mm e 16mm, quatro salas de exibição para pequenos grupos e ilha de convivência (com cafeteria, loja de CDs, DVDs e livros relacionados com cinema). A cerimônia reuniu parte significativa da classe artística gaúcha, em especial os cineastas, e contou com apresentação do grupo teatral Falus & Stercus, cujos integrantes executaram coreografias pendurados em cabos presos às paredes do prédio.
As obras de restauração do prédio histórico tiveram início em dezembro de 2004. O projeto contou com um patrocínio de R$ 4,2 milhões da Petrobras em suas duas primeiras etapas, o que resultou na conclusão da etapa civil da obra. Com isso, a fachada do prédio e as estruturas da construção foram recuperadas.
Em 2006, quando a Petrobras decidiu não patrocinar a última etapa do projeto, um longo e persistente caminho precisou ser enfrentado a fim de se conquistar um novo financiamento. O trabalho envolveu a obtenção da Carta de Reconhecimento da Importância Cultural e Imaterial do Capitólio, em dezembro de 2007, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e uma detalhada construção de apoios institucionais em todos os níveis de governo, além da ajuda de colaboradores.
Em novembro de 2009, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) confirmou o patrocínio no valor de R$ 1,1 milhão, por meio da Lei Rouanet, para a conclusão das obras de restauração da sala. O reinício das obras está previsto para os primeiros meses de 2010.
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http://www.aamica-capitolio.blogspot.com
http://www.capitolio.org.br
Zanella: made in Italy!
Zanella Confezioni, made in Italy!
Since originating in Vicenza, Italy, in the late 1950´s, Zanella has been synonymous with high quality men´s and women´s sartorial trousers.
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We invite you to come and experience the excitement of our collection.
www.zanella.com
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